O setor de fundos ainda sofre com desorganização econômica, remuneração atrelada, modernização do mercado de capitais e vantagem fiscal.
Nas últimas semanas, celebramos o aniversário de 30 anos do Plano Real, porém os fundos de investimento não foram lembrados. De certa forma, é compreensível que tenham ficado à margem das comemorações.
Enquanto o foco estava nas festividades do aniversário, os fundos de investimento continuaram sua trajetória de crescimento e estabilidade. É importante lembrar que esses fundos desempenham um papel crucial no mercado financeiro, contribuindo para a diversificação e rentabilidade dos investimentos.
Modernização do Mercado de Fundos de Investimento
O crescimento do setor de fundos de investimento, ainda muito significativo no volume total das aplicações financeiras no país, foi, em grande parte, uma resposta à desorganização econômica que prevalecia durante a hiperinflação. Investir naquela época visava principalmente evitar perdas decorrentes da inflação descontrolada. Os fundos de investimento ofereciam liquidez diária, eram facilmente movimentados e tinham remuneração atrelada aos juros de um dia.
Nos últimos 30 anos, o mercado de fundos de investimento no Brasil passou por uma evolução significativa, porém ainda mantendo características da época da hiperinflação. A necessidade de avaliar as cotas quase diariamente, como um percentual do CDI, é um exemplo disso. A questão da rentabilidade diária era tão crucial que os fundos eram praticamente ‘garantidos’ pelas tesourarias dos bancos. A remuneração diária vinculada ao CDI era essencial para a reputação do banco.
Com a modernização do mercado de capitais, novas práticas foram implementadas. Por exemplo, a separação das funções de gestão de recursos de terceiros e dos recursos próprios do banco tornou-se obrigatória por lei. Os fundos deixaram de ser apenas um instrumento de captação para as instituições financeiras e passaram a ser um serviço para os clientes. Isso mudou a relação com os investidores, que passaram a avaliar o desempenho futuro da carteira com base na capacidade de gestão da instituição.
Apesar das mudanças, os fundos de investimento mantiveram por muito tempo uma vantagem fiscal em relação a outras opções de aplicações financeiras. Ao investir em fundos, o investidor adiava o pagamento do imposto sobre a movimentação financeira, o que era uma vantagem em comparação com os títulos bancários tradicionais que têm prazos de vencimento a serem renovados.
Crise da Marcação a Mercado e a Evolução dos Fundos de Investimento
Um dos eventos marcantes dos últimos 30 anos, tanto para a consolidação do Real quanto para o setor de fundos de investimento, foi a crise da marcação a mercado em 2002. O cenário econômico era turbulento, e houve uma aversão à compra de títulos públicos de longo prazo. O Partido dos Trabalhadores liderava as pesquisas eleitorais, e os principais economistas da agremiação criticavam a estratégia econômica adotada desde o Plano Real.
Para gerenciar a dívida pública de forma mais organizada, o governo emitiu títulos atrelados à taxa Selic com diferentes prazos de vencimento. Os títulos de prazo mais longo ofereciam um prêmio em relação ao CDI. Com o tempo, o prêmio aumentou e os prazos de vencimento diminuíram. A crise da marcação a mercado foi um marco importante que influenciou a evolução dos fundos de investimento e a consolidação do Real.
Fonte: @ Valor Invest Globo
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